Coração Resplandecente

Era uma época em que a maré escura ainda não havia se retirado dos confins do céu, e os seis heróis que perseguiram o sol já haviam entrado no vento noturno.
As correntes ocultas da ganância se espalhavam entre as tribos caóticas, e os desejos de poder e a ambição se agitavam como insetos venenosos.
Alguns cobiçavam o poder deixado no rastro das brasas remanescentes, enquanto outros desejavam reivindicar a tribo.
Uma calamidade que parece ter sido completamente esquecida como as montanhas, está pisoteando os restos mortais desta terra.

"Não há olhos claros para revisar o passado, nem coragem para vislumbrar o amanhã."
"Formigas ocultas nas sombras, como ousam discutir o jugo vazio deixado pelos deuses?"
"Em seus olhos, só veem a glória de tomar e levar quando o trono está vazio."
"Já ergueram a cabeça para encarar a miséria que se espalha sobre este campo abrasador?"

Aquela que invadiu a Sala de Reuniões quando as tribos estavam em conflito era uma jovem que estava atrás de Wanjiru.
A filha do Coletivo da Fartura, que se casou com o Clã das Plumas de Flores, cravou a metade de uma lâmina de osso no centro da longa mesa, olhando com desdém para os membros da tribo intimidados.
Como lascas de madeira que se espalharam como faíscas, encerrando a fervorosa disputa dos herdeiros, as tribos, seguindo o antigo pacto,
colocaram de lado todas as contendas antes que a correnteza negra diminuísse seu ritmo, unindo-se contra o inimigo imperdoável.
Se a chama divina caísse, se o brilho do herói se apagasse, então que os mortais reacendessem a frágil centelha.
Mesmo que fosse uma resistência desesperada, eles abriram caminho para os heróis que nasceriam no amanhã.

Fietena, que não tinha um Nome Antigo, Fietena, que ninguém esperava ser uma heroína.
A jovem que se aconchegou ao lado da fogueira, ouvindo atentamente as lendas de heróis contadas por Wanjiru,
colocou a máscara de heroína e reuniu as tribos dispersas com sua voz rouca.
Junto com Traore, o órfão das minas, ela escavou grandes rochas e direcionou a lava para formar um rio que protegesse o povo.
Colaborou com Nzambe, o sacerdote das profundezas, para criar armadilhas que, com a força dos ventos, destruíram o pântano corrompido.
Mas mortais são apenas mortais. Quando os tempos de calamidade diminuíram, a maré seca já havia impregnado sua medula.
Quando a última sombra colapsou em meio a gritos, a já não tão jovem Fietena tirou a máscara,
entregando os adereços que usou por tantos anos para interpretar a "heroína" ao jovem do Clã das Plumas de Flores.

"Então, parece que esta é minha batalha final... Ora, não precisa fazer essa cara."
"Após a tempestade, o arco-íris se ergue, mas as cores ilusórias são apenas miragens na névoa."
"Seja herói ou mortal interpretando herói, um dia, todos devem deixar o palco."
"Essa é a regra da luta. Agora, deixe que esta máscara testemunhe o seu caminho, Taika."